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Coveiro compartilha sua rotina de trabalho no youtube

O coveiro Fabrício da Silva Pascoal trabalha no cemitério São João Batista desde 2007 e resolveu criar uma conta no Youtube para mostrar seu dia a dia de trabalho e acabar com muitos mitos sobre a profissão. Afinal, a profissão de coveiro atrai muito a curiosidade das pessoas em relação ao mundo dos mortos.

Como sabemos, a única coisa certa na vida é a morte, pois ela é comum a todas as pessoas, independente de cor, crença ou classe social. No momento da despedida, deparamo-nos com uma figura discreta, mas importantíssima, que é o coveiro. Pois esses profissionais são responsáveis pelo enterro daqueles que se foram. Contudo, a profissão costuma ser lembrada apenas quando necessário, ou seja, quando perdemos alguém importante. Justamente por isso que Fabrício decidiu abordar a temática de sua profissão nas redes sociais.

Aprovado em primeiro lugar no concurso público da Prefeitura de Guarapari, Fabrício da Silva Pascoal, de 46 anos, está na profissão desde 2006. Incomodado com o estereótipo criado em relação a sua profissão, o coveiro resolveu então criar um canal no Youtube. A partir de então, ele começou a fazer vídeos para mostrar seu cotidiano com objetivo de que sua profissão seja mais respeitada.

Seus vídeos começaram a fazer muito sucesso na internet, chegando a ter mais de 60 mil inscritos em seu canal. Com isso, ele resolveu ser mais ousado e começou a falar e mostrar com muito bom humor as suas funções. Dentre elas, as exumações e a limpeza dos túmulos.

Fabrício conta que antes de ser coveiro já trabalhava como pedreiro, mas não tinha como comprovar, pois era autodidata e não tinha formação. Assim, ele foi orientado a se candidatar a vaga de coveiro, pois não exigia uma formação. Ele ainda conta que sua esposa não gostou nenhum pouco da ideia, mas ele acabou passando no concurso e ficou uns três meses no Cemitério São Tobias. Depois foi transferido para o Cemitério São João Batista, que é o mais antigo da cidade, onde trabalha até hoje.

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Dúvidas sobre a profissão

O coveiro conta que sua nova profissão trouxe muitos questionamentos, tanto pela família quanto por outras pessoas, que sempre perguntam se ele não teria medo de exercer a nova profissão. Entretanto, ele sempre respondia que não tinha medo.

Dessa forma, para sanar as dúvidas e curiosidades das pessoas em relação a sua profissão, Fabrício decidiu criar um canal há pouco mais de um ano e meio. Ele conta que não era bem a intenção, mas a coisa foi ganhando uma grande proporção grande e começou a fazer sucesso.

Ele conta ainda que nunca teve a intenção de ficar famoso com o canal, mas queria poder mostrar as pessoas que essa é uma profissão como qualquer outra. Queria acabar com as fantasias relacionadas com pessoas que trabalham diretamente com a morte ou em cemitérios.

Fabrício nasceu em Rio Novo Sul e lá os coveiros eram vistos como cachaceiros, bagunceiros e ociosos. Ele então criou o canal para também tirar esse estereótipo da profissão.

Exumações

O Cemitério São João Batista é famoso tanto na formação da cidade quanto na teledramaturgia. Os vídeos para o canal “Vídeos Aleatórios do Coveiro” são gravados durante os momentos de folga de Fabrício.

Os trabalhos de exumações são os que mais repercutem entre os escritos no canal. Ele mostra todos os procedimentos referentes ao trabalho e, para evitar problemas com as famílias e com o próprio cemitério, os vídeos não mostram os nomes dos falecidos.

A cidade Guarapari possui dois cemitérios. O São Tobias, que é o maior e o mais novo, construído em 1970, e o São João Batista, construindo em 1906, por isso, possui muitas histórias e a maioria dos túmulos pertencem as famílias tradicionais da região. Quase 90% dos túmulos foram passados de geração em geração.

Portanto, antes de realizar qualquer sepultamento, é necessário realizar a exumação. Ele mostra em seu canal a abertura dos caixões e o que restou dos corpos. Esse tipo de coisa desperta muito a curiosidades das pessoas, sendo assim, esses tipos de vídeos são os que mais despertam o interesses dos inscritos do canal.

No São João Batista, os sepultamentos não são realizados todos os dias, pois o local possui apenas 350 sepulturas e há pouquíssimo espaço para outras covas. Fabrício aproveita para dedicar um tempo para seus seguidores e, sem medo, o coveiro mostra com muito conhecimento de causa os diferentes tipos de exumações.

Ele conta que as pessoas acham que o trabalho de um coveiro é apenas realizar os enterros. Mas, não é bem assim, pois um coveiro deve realizar todas as atividades relacionadas aos cuidados de um cemitério. Sempre trabalhamos em dois e em escalas de 12/36, das 6 às 18 horas.

Existe uma infinidade de coisas a serem feitas em um cemitério, pois são muitas coisas para cuidar, limpar e deixar em ordem para que as famílias possam realizar seus rituais de despedidas da melhor forma possível.

Quando as exumações são realizadas, os restos mortais são colocados em uma sacola e depois são colocados de volta ao túmulo ou em outro local determinado pela família. A exumação ocorre normalmente quando o espaço é necessário para um novo enterro, mas podem ocorrer também quando há um pedido da própria família para a realização de uma limpeza do local ou quando há uma ordem judicial para que o corpo seja exumado.

As famílias dos falecidos

Fabrício conta que tem muito respeito pelos mortos e principalmente pelas famílias enlutadas. Ele afirma ainda que nesse período de pandemia acabou agindo como uma espécie de psicólogo para aqueles que perderam alguém. “No mês de setembro enterramos 13 pessoas, sendo que o normal são 3 ou 4”, disse ele.

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Por causa das restrições relacionadas à pandemia, os enterros são acompanhados por poucas pessoas, o que acaba deixando a situação ainda mais difícil, pois é muito complicado não poder se despedir de alguém que você ama. Fabrício disse que a dor do outro também é a sua dor, por isso, ele sempre permite que a pessoa realize sua despedida da melhor forma possível.

Com um ótimo vocabulário oriundo de sua paixão pela leitura, Fabrício fala com muita clareza e empatia de sua profissão e das pessoas que ela envolve. Mesmo tendo que deixar a escola cedo para trabalhar, ele continua com o hábito de ler, o que ajuda em vários aspectos. Como símbolo de sua profissão, Fabrício possui um crânio tatuado em um de seus braços.

Salário

A desvalorização da profissão de coveiro é uma questão importante para Fabrício, pois a média de rendimentos da profissão é de apenas um salário mínimo por mês.

Por isso, o canal que era apenas explicativo no começo, acabou virando também uma fonte de renda. Ele conta que as visualizações geram uma monetização, que embora seja pequena, ajuda bastante no orçamento mensal.

Entretanto, ele também continua atuando como pedreiro nos períodos de folga, renda que ajuda a manter a família mais confortável. Às vezes, Fabrício recebe ajuda de alguns inscritos no canal.

O São João Batista e a teledramaturgia

Mesmo não sendo um dos maiores cemitérios que existem e estando localizado numa região conhecida como “Guarapari Velha”, perto da praia das virtudes, o local chamou atenção da teledramaturgia brasileira.

A novela “O bem amado”, sucesso da década de 70 foi inspirada em um “causo local”. Dirigida por Régis Cardoso, a novela foi baseada na peça O bem amado e Os Mistérios da dor e da morte, escrita por Dias Gomes em 1962.

O protagonista da história era Odorico Paraguaçu, que era um político paulista e corrupto, prefeito da cidade fictícia de Sucupira, no litoral de Bahia. O interessante é que ele se elegeu prometendo criar um cemitério em uma cidade que nunca morria ninguém.

O interessante é que o campo santo que foi construído em 1906 esperou até 1916 para ter seu primeiro enterro, ou seja, esperou por dez anos. Diz a lenda que quando Dias Gomes soube da história e foi conhecer a cidade e resolveu transformar a história em um folhetim diário.

Fabrício conta que já começou a trabalhar sabendo dessa história e que todos na cidade também sabem que a novela foi baseada na história do próprio cemitério.

A inauguração do Cemitério Municipal São João batista só aconteceu com o “empréstimo” do corpo de uma andarilha falecida em Anchieta, que uma cidade vizinha, para ser sepultada. A ação visava afastar os comentários de que o cemitério havia sido construído apenas para desviar dinheiro público da cidade.

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