Algumas informações ficam retidas em nossas memórias por um longo tempo e outras acabam se perdendo, mas por que isso acontece?
É o que um estudo duas universidades tenta explicar. Segundo a ciência existe um viés do nosso cérebro ao contarmos uma história ocorrida no passado.
É sobre assunto que falaremos no texto de hoje. Confira!
Como funciona a memória humana?
A memória humana é considerada um processo altamente reconstrutivo. De acordo com especialistas, toda vez que revisitamos uma determinada experiência de vida, podemos sem querer mudar ou alterar o seu conteúdo.
Todo mundo já deve ter ouvido a expressão: quem conta um conto aumenta um ponto. Mesmo não sabendo a real origem desse ditado popular, existe nele certa verdade, pois toda vez que contamos uma história podemos aumentar ou contar alguns detalhes de forma diferente do que realmente ocorreu.
Alguns estudos já foram realizados sobre a memória e sua capacidade de ser diferente do evento real. Mas, a gente se pergunta, o quanto essas memórias são diferentes das experiências originais? Como essas lembranças são transformadas com o passar do tempo?
Vários estudos e experimentos científicos já tentaram medir a transformação das lembranças com o passar do tempo. Contudo, as universidades Glasgow, na Escócia, e Birmingham, na Inglaterra, realizaram um vasto estudo sobre o tema com o objetivo de esclarecer e trazer respostas mais precisas.
O que diz esse estudo?
O estudo, publicado na revista Nature, teve como objetivo medir todos os detalhes e informações específicas que permanecem em nossas memórias quando revisitamos o nosso passado. O estudo engloba ainda as diferenças do que lembramos de informações e os dados mais genéricos.
Para os estudos foi feito um experimento por meio da ativação de memória visual com um grupo de pessoas adultas. De acordo com os especialistas, o que muda são os detalhes das nossas memórias. Pois elas se alteram mesmo quando visitamos várias vezes as mesmas lembranças.
As memórias mais específicas podem permanecer iguais, mas os detalhes menos marcantes delas, mudam. A tendência da nossa memória é guardar apenas o conceito e a essência do que foi vivenciado, aquilo que consideramos mais importante para nossa evolução.
A importância do estudo
Com décadas de estudos sobre como funciona a mente humana e a memória, é possível dizer que a repetição funciona como proteção contra o esquecimento. Se repetirmos de forma contínua uma lembrança, o cérebro é capaz de processá-la como sendo uma informação recém-adquirida.
Entretanto, será que os aspectos de uma memória são beneficiados igualmente pela recordação ativa? Foi isso que os pesquisadores das universidades de Glasgow e Birmingham decidiram investigar.
Assim, a pesquisa realizou uma análise das mudanças qualitativas nas memórias que ocorrem com o passar do tempo, independente de existir repetição da lembrança. Então, foi possível perceber as mudanças que ocorrem quando as repetições são realizadas e quando não são.
Atividade para memória
Para que o estudo fosse possível, os pesquisadores tiveram que desenvolver uma atividade com ajuda de um computador. Essa atividade serviu para medir a velocidade com que as pessoas são capazes de recordas algumas características das memórias visuais.
Uma das técnicas usadas foi mostrar aos participantes umas tabelas com pares de imagens e palavras. Uma dessas tabelas continha a palavra “coração” e o desenho de um coelho. Algumas ilustrações eram apenas cinza e branca, e outras eram coloridas.
Depois, os participantes eram testados para ver se eles se lembravam de detalhes bem perceptíveis. Para isso, deveriam indicar no menor tempo possível se a imagens eram coloridas ou em tons de cinza.
Contudo, eles deveriam ainda perceber se o computador estava mostrando um objeto desenhado ou se era uma palavras escrita. Sendo assim, eles deveriam lembrar do elemento semântico.
Esse teste foi feito logo após a exposição das tabelas e depois foi repetido ao mesmo grupo 48 horas depois.
Os resultados
Os resultados dos testes mostraram aos pesquisadores que as características mais gerais das figuras são mais facilmente fixadas mesmo com o passar do tempo. Porém, os detalhes mais específicos são esquecidos.
Um fato importante do teste é que a lacuna das informações foi menor no grupo que foi exposto mais vezes às tabelas, ou seja, foi comprovado que quando há repetição da memória, as informações ficam mais fixadas.
Dessa forma o estudo conseguiu comprovar que o nosso cérebro tem um viés em relação ao conteúdo da memória e ainda pode esquecer memórias que são muito ricas de detalhes para armazenar aquelas lembranças que são baseadas em conceitos essenciais.
A pesquisadora em neurociência e principal autora do estudo, Maria Wimber, conta que as memórias realmente podem mudar com o passar do tempo e isso faz parte do nosso processo de evolução e é uma forma de adaptação da espécie humana.
Isso ocorre porque queremos que o nosso cérebro retenha apenas o que for útil para o nosso futuro. De acordo com Wimber, os resultados podem ser usados em diversas áreas, como na forma como o sistema judicial lida com o depoimento de testemunhas ou como compreender e lidar melhor com as memórias em um evento de estresse e trauma.
Os resultados podem ajudar ainda a compreender melhor como os estudantes podem construir metodologias de aprendizagem e ensino.
O que é memória?
Pode ser considerada memória a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações que já tivemos algum contato.
A memória é também a base da nossa produção de conhecimentos que pode ser dividida entre declarativa (memória explícita) e a memória não declarativa.
A memória pode ser ativada de diversas formas: sons, imagens, cheiros, palavras e assim por diante.
Memória Declarativa
A memória declarativa é memória de curto prazo, ou seja, aquela mais fácil de ser declarada e também de ser adquirida. Ela está relacionada diretamente com o processo de retenção e consolidação de informações novas e depende do sistema límbico.
Essa memória é a responsável por lembrarmos de fatos, acontecimentos, nomes e dados que guardamos em nosso cérebro e somos conscientes disso. O sistema de memória está associado a regiões do hipocampo e amígdala.
A memória semântica
Já a memória semântica faz parte da declarativa, mas é uma memória a longo prazo. É considerada a memória genérica e refere-se à memória dos significados compartilhados e não a algo subjetivo e individual.
A memória semântica depende das estruturas do lobo temporal medial.