Já são mais de 550 mil mortes no Brasil em decorrência da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). Essa é uma triste realidade que representa milhões de brasileiros que perderam alguém que ama para a Covid-19 e estão enfrentando o luto em plena pandemia.
Essas famílias não puderam se despedir da maneira tradicional dos seus entes queridos e isso deixa uma lacuna difícil de assimilar, pois precisamos do momento de despedida para vivenciar o processo de luto.
O luto é algo que, mesmo sendo dolorido, se faz necessário passar por ele quando se perde alguém. De acordo com os psicólogos, existem as cinco fases do luto, sendo elas: negação/isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação.
Quando alguém que amamos vai embora, nós precisamos sentir tudo isso. É preciso lembrar-se da necessidade de se permitir sentir a dor do momento, chorar, se expressar e sentir saudades.
Portanto, no texto de hoje, falaremos sobre como enfrentar o luto em momento difíceis como esse que está acontecendo devido a pandemia. Confira!
Luto sem despedida
Com a alteração nos formatos dos velórios e sepultamentos durante o período de pandemia, perderam-se os rituais que são importantíssimos para o processo de compreensão da morte, os funerais e sepultamentos tradicionais, como conhecemos em nossa cultura.
Isso porque muitas pessoas não tiveram a oportunidade de se despedir dos seus entes falecidos de forma adequada devido os perigos das contaminações.
Há algo muito doloroso e cruel no luto relacionado a mortes pelo novo Coronavírus justamente por causa do risco de contaminação pela Covid-19. Sendo assim, algumas etapas que são absolutamente importantes para o processo de construção de sentido e aceitação da perda e do luto foram simplesmente tirados das pessoas.
Sem poder acompanhar os últimos dias do paciente no hospital, com velórios suspensos e sepultamentos rápidos, contando com poucas pessoas à distância e com os caixões lacrados, ficou muito mais difícil se despedir. Pode-se considerar a morte por Covid-19 uma morte desamparada.
É difícil imaginar que uma pessoa absolutamente saudável pode ser acometida pela morte em pouco tempo por conta da pandemia e, pior que isso, é não poder segurar a mão dessa pessoa enquanto ela luta pela vida.
Para as pessoas que ficam, a perda repentina e sem despedidas pode trazer várias complicações tanto unitárias, quanto para a família, ou seja, coletivas.
A importância das despedidas
Quando uma pessoa querida morre, ela deixa uma lacuna na vida de outras pessoas. A sua falta nos deixa tristes e o velório serve para nos despedirmos e prestarmos a última homenagem a quem amamos.
Infelizmente, em tempos de pandemia isso não está sendo possível. Essa falta de despedida pode deixar um espaço muito dolorido no coração das pessoas que não têm a oportunidade de se despedir de quem ama.
Os rituais de despedida têm um papel muito importante, pois são aqueles espaços protegidos e autorizados para sentir a dor da perda e com a possibilidade de receber o apoio social.
Em quase todas as religiões, os velórios eram, até a chegada da pandemia, os momentos organizados e previsíveis, onde eram realizadas as homenagens aos falecidos. Nesses espaços era possível de despedir e tentar atribuir sentidos à morte.
O processo de entendimento da morte é muito individual, mas durante um ritual de despedida é possível que todos os familiares e amigos compartilhem de momentos de tristeza. É o local e espaço criado para poder se sentir a vontade em por pra fora a dor.
De acordo com especialistas, a morte pela Covid-19 é um fator de risco potencial para um luto traumático. Isso se dá tanto pela impotência diante da pandemia quanto pela falta do momento de despedida.
O processo de luto funciona diferente para cada pessoa e o luto em plena a pandemia torna as coisas ainda mais complicadas e as reações de sofrimentos são muito diversas. Por isso, os cuidados e caminhos seguidos por um podem não servir para o outro.
De qualquer maneira, é importante saber que a perda pelo Coronavírus é, por si só, um fator de risco potencial para o que os especialistas chamam de luto traumático, como dissemos. Por isso, merece muita atenção familiar e da comunidade de apoio ao enlutado, que deve ser sensível e atenciosa.
A despedida e a construção de um novo sentido
Enfrentar o luto em plena a pandemia é mais complicado do que em qualquer outro período, pois o momento de despedida para o começo do entendimento da morte não ocorre, que é o velório.
Os rituais de passagem como velório e sepultamento são de grande importância para a construção da perda e para o processo de recuperação do próprio luto. Nesse momento de pandemia, o ideal seria realizar um tipo de ritual online onde familiares e amigos do falecido pudessem se ajudar, que poderia dar sentido a situação e ao luto.
Os velórios e rituais são um caminho para realizar as homenagens assim como o uso das mídias sociais também podem ser uma forma de apoio coletivo. A experiência de não poder estar junto de um ente querido nos últimos momentos de vida pode gerar uma sensação de culpa entre as pessoas mais próximas da família. O luto em plena a pandemia deixar muitas marcas, inclusive, essa de não estar presente.
Sabendo que ninguém pode estar presente na hora da morte de uma pessoa com Covid-19, o melhor a fazer é aceitar a impotência da ocasião, pois o que não se pôde fazer foi por conta da impossibilidade, não foi uma escolha.
Lembre-se do amor
Na medida do possível, lembre-se do amor e dos aspectos positivos da pessoa que se foi. Essa é uma forma de se fortalecer nesse momento tão difícil e complicado que é a morte. O luto em plena a pandemia pode tira muitas coisas de você, mas não consegue tirar as lembras boas que a pessoas deixou.
É importante nesses momentos poder contar com a ajuda da família e dos amigos. Portanto, oferecer ajuda e se colocar a disposição do enlutado é uma grande forma de ajudar. Às vezes a ajuda pode ser apenas a companhia, uma boa conversa e a disponibilidade para apenas ouvir as pessoas.
Para enfrentar o luto em plena pandemia, as vezes é interessante contar com a ajuda de um profissional especializado. A ajuda de um psicólogo ou um terapeuta pode ser de grande valia nesse momento, pois ele poderão conduzir melhor as dores e os sofrimentos.
Muitas vezes precisamos de alguém de fora para nos orientar ou nos fazer enxergar coisas que sozinhos não estamos sendo capazes. Contudo, no final, o que conta mesmo de verdade é o amor, então, se apegue as boas lembranças.