Perder um ente querido é sempre uma dor indescritível para toda a família e amigos. Contudo, é justamente nesse momento tão complicado que se pode nascer um ato de amor ao próximo, esperança e solidariedade: a doação de órgãos.
Doar órgãos é doar a possibilidade de uma nova vida para as pessoas que passam muito tempo na fila de espera por um transplante de órgãos. Contudo, ainda existem algumas polêmicas que envolve esse assunto, como é o caso da doação de órgão e as religiões. Isso porque, por muito tempo, a doação de órgão era tida como um assunto tabu para muitas religiões. Porém, isso vem mudando com o passar do tempo.
Atualmente, a grande maioria das religiões não se opõem à doação de órgãos. Algumas, inclusive, apoiam essa prática, pois se trata de um ato de amor ao próximo. Entretanto, ainda existem alguns resquícios culturais que impedem algumas pessoas de serem doadoras devido ás suas crenças religiosas.
É sobre esse assunto que falaremos no texto de hoje. Contudo, primeiramente, vamos entender um pouco mais sobre a doação de órgãos. Confira!
História do transplante de órgãos
O primeiro transplante de órgãos bem sucedido do mundo foi realizado pelo Dr. Joseph E. Murray, em 1954. O órgão transplantado foi um rim entre dois gêmeos idênticos, no Hospital Brigham and Women, e o médico se baseou na teoria de que o transplante entre gêmeos idênticos não teria rejeição, pois o genoma de ambos, receptor e doador, é o mesmo.
Entretanto, o transplante de órgão entre não parentes só foi realizado a partir de 1960. Sendo assim, somente nos anos 60 foi que os médicos descobriram um meio de realizar o procedimento entre pessoas de famílias diferentes sem que ocorresse rejeição.
Mas, mesmo assim, os riscos na época ainda eram muito altos e as chances de sobrevivência após a realização da cirurgia eram baixíssimas. Porém, nos anos 80, os medicamentos imunossupressores evoluíram muito, possibilitando que a prática de transplantes de órgãos e tecidos se tornasse mais segura e rotineira.
A doação de órgão e as religiões
A grande maioria das religiões defende a prática do transplante de órgãos como um ato de amor ao próximo, mas algumas delas aceitam o procedimento apenas entre órgãos e tecidos limpos, ou seja, quando não há troca de sangue.
Em todas as religiões a doação de órgãos é uma opção individual e, nos casos de doadores falecidos, é necessária uma autorização da família, sendo essa também uma exigência legal no Brasil.
Contudo, algumas religiões possuem seus próprios costumes em relação à doação de órgãos, como por exemplo, o judaísmo, que só permite a doação para um receptor conhecido para evitar que o órgão retirado, se não utilizado, seja por algum motivo descartado. Isso porque, para os judeus, o corpo é sagrado e deve ser enterrado de acordo com as suas tradições.
Doação de órgãos e ética
Em relação à questão ética, é defendido que a doação de órgãos deve ser realmente uma doação e também deve-se seguir todos os parâmetros de necessidade do receptor, considerando a gravidade da situação para assim poder se determinar quem irá receber o órgão doado.
Todas essas medidas servem para evitar o comércio indiscriminado de órgãos, que normalmente favorecem pessoas que possuem maior poder aquisitivo.
A doação de órgão e as religiões são duas coisas que só funcionam bem se for tudo bem organizado, pois ponto de vista religioso, o comércio de órgãos é uma prática condenável.
As religiões acreditam que o comercio de órgãos é uma banalização do corpo e acaba transformado ele em objeto, que é algo muito errado tendo em vista que o corpo é o abrigo da alma e deve ser considerado algo sagrado.
A hora da morte também é levada em consideração para a realização da doação de órgãos. O parâmetro para definir se uma pessoa está mesmo morta é a morte cerebral, onde não há mais possibilidade de recuperação. Contudo, esse parâmetro não é muito bem visto pelas religiões, que não aconselham o desligamento dos aparelhos.
Como doar ou receber órgãos?
Para ser um doador de órgãos basta a pessoa informar a sua família, pois é ela quem irá autorizar a retirada dos órgãos quando você falecer. Mas existem alguns transplantes que podem ser realizados entre pessoas vivas, como, por exemplo, o transplante de medula óssea e de rim.
A doação de uma medula óssea é considerado um procedimento muito simples, pois não causa nenhum prejuízo ao doador, bastando apenas que o mesmo se dirija ao hemocentro mais próximo de sua residência.
Nesse caso, a doação de órgão e as religiões não se contrapõem, até porque a doação é consensual e o doador está vivo.
A morte encefálica é o primeiro critério que determina se o falecido poderá ou não ser um doador de órgãos. Em seguida, é necessário averiguar se o falecido não teve alguma doença que tenha prejudicado o funcionamento de um mais de seus órgãos como câncer, AIDS e hepatite, pois elas impossibilitam a doação dos órgãos.
Em alguns casos, o transplante pode de órgãos pode esperar um tempo maior de espera, como o transplante de córnea, que pode ser realizado em até 6 dias depois de constatado o óbito, contanto que as condições necessárias tenham sido mantidas.
Contudo, em alguns casos, a retirada deve ser realizada o quanto antes, como no transplante de coração, que deve ser retirado em até quatro horas após a morte. Outro importante critério é a existência de um paciente receptor compatível com o doador, ou seja, que possua o mesmo tipo sanguíneo, além de código genético igual.
Essas características são verificadas por meio de um teste chamado de “tipagem HLA” e os órgãos do doador e do receptor devem ser de tamanhos e pesos bem semelhantes.
Para ser uma receptora de um órgão, uma pessoa deve estar cadastrada em uma lista de espera e a sua posição na fila de espera dependerá da gravidade do seu caso e das chances de sobrevida. A idade do receptor também é levada em consideração.
O Brasil conta atualmente com uma fila de espera de mais de 70 mil pessoas, que aguardam ansiosamente por uma chance de receber um novo órgão para seguirem com a as vida da melhor forma possível.
A doação de órgão e as religiões estão fazendo o possível para que a situação melhore, mudando crenças e comportamentos, para propagar o amor ao próximo e a solidariedade.
Benefícios para a família de um doador de órgão
A doação de órgão e as religiões são temas muito comentados quando se trata de transplante de órgãos. Porém, poucas pessoas sabem que existem alguns benefícios garantidos por lei para as famílias dos doadores de órgãos.
De acordo com a Lei 11.479/94, regulamentada pelo Decreto 35.198/95, no município de São Paulo, a família de uma pessoa que tiver doado ao menos um órgão fica isenta do pagamento de algumas taxas e despesas com o funeral de acordo com o disposto na legislação.
Para isso, basta que a família apresente o documento que comprova a doação do(s) órgão(s) do seu parente. É importante ressaltar que não é necessário que seja comprovado o aproveitamento do órgão doado.