Postergar o rumo dos pertences do ente querido nem sempre contribui para aliviar a dor da perda. Veja dicas do que fazer com os bens avulsos do falecido e como lidar com a dor que esses itens trazem!
Algumas vertentes da psicologia afirmam que a grande marca de que o luto foi superado é quando o enlutado consegue se desfazer dos pertences do ente querido.
Não há regras quanto à duração e aos desdobramentos da dor da perda, mas um luto patológico comumente apresenta a característica da dificuldade em lidar com os objetos pessoais de quem se foi e se apegar a eles como forma de lidar com a dor.
O sofrimento pela ausência da pessoa amada é entorpecedor, causa uma imobilidade de maneira que o enlutado se torna incapaz de resolver pormenores, ainda mais quando se trata de tarefas que envolvem a fatalidade.
Para os detalhes logo após a morte, como a preparação do corpo pós-morte, o translado funerário, o velório, as cerimônias, a documentação para a realização do funeral e o próprio funeral, a contratação de um plano funerário ou de uma assistência especializada resolve.
Por outro lado, lidar com os bens do falecido é uma responsabilidade dos familiares, desde tudo o que envolve o inventário, a partilha, o testamento, o patrimônio de quem se foi de uma maneira geral, até seus objetos cotidianos, de baixo valor econômico, mas de altos valores simbólico e sentimental.
A dificuldade de tocar e organizar os pertences do ente querido com os quais ele se relacionava no dia a dia é muito grande.
Já que, desperta sentimentos totalmente novos, difíceis de assimilar. Mas é uma tarefa necessária, não só pelo movimento de desapego, como também por ser um ato definitivo para quem quer seguir em frente.
Preparamos algumas dicas para você que precisa enfrentar a nova realidade, encarar a ausência da pessoa amada e liberar espaço na casa, na mente e no coração. Confira sugestões do que fazer com os pertences do ente querido. Boa leitura!
Os objetos de recordação
Não há como medir a dor da perda, cada um sabe a sua intensidade. Há quem, no momento da raiva — que condiz com a segunda das cinco fases do luto —, desfaça-se dos pertences do ente querido por impulso, podendo vir a se arrepender depois e perdendo a oportunidade de se banhar em um mar de recordações positivas e afetivas.
A lembrança e a memória são fatores importantes para o enlutado, afinal, superar o luto não significa apagar para sempre a pessoa ausente, mas aceitar a morte e reorganizar a vida diante da nova realidade.
No outro extremo, há aqueles que já realizaram o funeral da pessoa querida há anos ou décadas, mas ainda mantém os pertences pessoais intactos, não somente os objetos de recordação, mas todos, sem exceção.
Essas pessoas são incapazes de aplicar o desapego e retomar suas vidas se maneira plenamente saudável e não sabem como seguir em frente.
Aceitar a ausência da pessoa falecida, adequar-se à nova realidade e encarar as dores e os temores são movimentos necessários para que o sobrevivente assuma o controle de sua vida.
Por isso, ressignificar os pertences do ente querido transformando-os em objetos de recordação é um processo eficaz para alcançar tais objetivos.
Para tanto, é preciso selecionar com cautela, atenção e calma quais são os objetos que valem a pena ser guardados de modo a manter um espaço de memórias positivas relacionadas ao falecido.
Leia também: Como ser doador de órgãos no Brasil: confira um passo a passo completo.
O que fazer com os pertences do ente querido?
Fizemos uma lista objetiva e prática de dicas para que esse momento de seleção dos pertences do ente querido seja leve e menos sofrível. Confira:
1. Comece pelo mais importante: guarde os documentos
Antes de mexer nos pertences pessoais com maior valor sentimental, é preciso organizar aqueles que possuem efeitos jurídicos ou que serão necessários para a resolução de possíveis burocracias que venham a ocorrer no futuro.
Documentos de identidade, faturas, notas fiscais de produtos adquiridos, termos de garantia, contratos assinados, declarações de direitos e deveres, tudo isso deve ser mantido seguro por alguns anos, para que seja possível encontrar soluções para eventuais problemas que envolvam tais documentos oficiais.
Além disso, os documentos de identidade também podem ser espaços de recordações, pois significam o lugar que aquela pessoa ocupou na sociedade, de maneira que mantê-los pode ser importante para a construção da memória familiar.
Separe uma caixa de arquivos, compre pastas de plástico ou separadores e reserve todos os documentos que julgar importantes. O restante pode ser encaminhado, sem medo, para o lixo reciclável.
De tempos em tempos, a cada três anos, por exemplo, é possível rever a papelada e ir descartando outros papeis já sem validade, ou que provavelmente não serão mais usados.
Aos poucos, restarão apenas aqueles essenciais, que marcam e registram a existência da pessoa que já partiu.
2. Separe os pertences pessoais
Quando se trata de roupas, sapatos, móveis, decorações, porta-retratos, plantas, aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos, ou seja, tudo aquilo que não faz parte do inventário e da partilha legal de bens, a decisão sobre o que manter e o que dispensar é um tanto mais delicada e envolve questões afetivas e financeiras.
É preciso sentar com muita paciência e com liberdade para deixar as lágrimas rolarem. Chame alguém de confiança, caso não se sinta confortável para fazer o processo sozinho ou sozinha.
Escolher qual pertence doar e com qual ficar é delicado, mas não tão complicado. Toque, sinta, observe cada objeto e deixe despertar as sensações.
Aqueles lhe causam mal-estar sem dúvida não deve ser mantidos, mas aqueles que retomam bons momentos ou boas recordações podem constituir um espaço de memória dentro da casa.
É possível distribuir alguns objetos com maior valor aquisitivo, como eletrodomésticos, entre parentes e amigos que precisem, ou ainda, uma maneira mais prática é escolher uma instituição do bairro ou próxima que recolha e distribua doações — igrejas e organizações que atendam pessoas carentes.
Doar tudo para um mesmo lugar é uma ótima opção, facilita o processo e garante uma maior comodidade, evitando tratar do assunto com muita frequência e envolver muita gente nesse processo doloroso.
3. Faça uma caixa de memórias
Pertences do ente querido muito pessoais e úteis, como roupas, sapatos, objetos de uso cotidiano não é recomendável que sejam guardados. Desfaça-se de tudo que preenche o guarda-roupa, guardando apenas uma outra peça que seja demasiado significativa.
Para isso, monte uma caixa de memórias, é uma maneira indicada por psicólogos para lidar com o desprendimento e para aceitar a perda. Compre uma caixa bonita, selecione os objetos mais relevantes e que despertem boas recordações e crie sua caiza de memórias.
Uma camisa, um vestido, o relógio, a agenda, brincos, colares, o perfume preferido, retratos, CDs, discos, livros e revistas. Esses são alguns dos pertences do ente querido que constroem uma relação afetiva e estimulam os dispositivos sensoriais do nosso corpo de maneira positiva.
As lembranças auditiva, olfativa e tátil podem ser preciosas no futuro. A caixa de memórias com os principais pertences do ente querido estará sempre num lugar especial da casa, bem guardada, devidamente enfeitada e identificada com o nome da pessoa amada, de maneira a estar acessível para um momento de desespero, em que as recordações podem se tornar um lugar de conforto e acolhimento.
4. Crie um altar de homenagem
Uma boa alternativa ainda é separar um móvel, um nicho, uma estante ou prateleiras para expor alguns dos objetos mais significativos ao lado da urna de cremação, por exemplo.
O altar de homenagem mantém o lugar de pertencimento do ente querido, oferece um espaço organizado e visível, para que sua presença tenha um efeito positivo no cotidiano domiciliar.
5. Cuide dos pertences de grande porte, emprestados ou alugados
Os pertences que se enquadram como bem patrimonial são destinados à partilha do inventário, realizado judicialmente ou de maneira amigável.
Assim, as aquisições caras já quitadas, as que ainda têm parcelas em a ver e contratos de aluguel, entre outros deveres, são todos assuntos resolvidos no momento de declarar espólio e de dividir a herança.
Um membro da família precisa ficar responsável por esses trâmites, mas nada que for dessa categoria pode ser descartado sem acordo firmado entre os interessados, sejam eles os herdeiros necessários ou os legatários informados no testamento.
É preciso ainda considerar a declaração de vontade do falecido, se houver, seja verbal ou escrita, antes de decidir o que fazer com determinados pertences.
Se, no momento de averiguar um a um os pertences do falecido que estão dentro do imóvel ou aposento em que ele vivia, forem encontrados objetos emprestados, é preciso fazer o possível para identificar e contatar o verdadeiro dono e devolver-lhe o que é seu por direito.
6. Confira os bens digitais
Atualmente, uma pessoa não possui apenas pertences materiais, os bens digitais são uma realidade na vida de todos. Tais como:
- Acessos a contas e perfis pessoais em redes sociais;
- Contas de correio eletrônico;
- Serviços digitais, por exemplo, assinaturas de streaming de entretenimento ou plataformas de e-books;
- Nuvens de backup de arquivos ou pastas digitalizadas contendo fotos, documentos, vídeos, áudios entre outros;
- Pendrives, hard disks, aparelhos e unidades que contenham dados e informações.
Tudo isso e muito mais faz parte dos pertences do falecido e precisam ser igualmente organizados, descartados ou armazenados, formando uma memória digital.
A constituição da memória para a superação do luto
A última fase do luto é a de aceitação, quando finalmente o sobrevivente pode vivenciar as lembranças sem experimentar uma profunda angústia.
Assim, conviver e selecionar as memórias faz parte desse processo e os pertences do ente querido têm grande poder no despertar dos sentimentos vinculados às recordações.
Envolva-se com os objetos, materiais ou digitais, com consciência e com a mente aberta. Permita-se sofrer uma vez mais e escolher quais as imagens e lembranças que quer junto de si para toda a vida.
Assim, seguir em frente com a ausência de alguém que um dia esteve próximo é possível e pode ser menos doloroso quando nos envolvemos com objetos que acionam memórias alegres.
Se for preciso, busque ajuda nesse processo, seja de um profissional, caso você sinta sintomas de um luto patológico, ou de uma pessoa de confiança. A solidão diante da morte é o pior dos pesares, e ninguém precisa enfrentar a dor sozinho.
Confira uma leitura que pode lhe interessar: 7 Coisas para fazer antes de morrer que você não deve deixar para trás.