Saiba como funciona a cremação de animais de estimação e por que esse procedimento é uma alternativa viável no Brasil atual.
As soluções indicadas para o que fazer com os restos mortais de animais falecidos muitas vezes são tratadas apenas como “descarte correto de resíduos”. Um tema que inclui contaminação do solo, entre outras questões ambientais importantes.
Mas qualquer cuidador que ama o seu pet sabe que a questão vai muito além disso. Para pensar sobre esse tema, vamos discutir como a cremação de animais pode unir o útil (equilíbrio ambiental) ao agradável (a necessidade de se despedir do ente querido).
Não podemos negar que encontrar alternativas ambientalmente corretas é um desafio para todas as áreas, mas quando se trata de como proceder diante do falecimento de um pet é preciso refletir sobre questões como o luto, a memória e o culto à morte.
A cremação de animais atende a todos esses requisitos: nos permite uma relação equilibrada com o meio-ambiente, um comprometimento com a saúde pública e o respeito à morte dos animais, que hoje são vistos como membros dos núcleos familiares.
A seguir, faremos um passeio por todas essas questões, para pensar sobre a importância e a viabilidade da cremação de animais no Brasil atualmente. Continue com a gente e boa leitura!
O que é a cremação de animais?
O processo de cremação envolve uma técnica muito específica, que não emite poluentes e evita o contato direto com os restos mortais do animal.
Os corpos são manejados em um forno adequado, desacompanhados de qualquer objeto, e submetidos a uma temperatura de 1000°C, por cerca de 40 minutos.
Logo após esse procedimento, é feito um processo para dissolver o restante dos ossos que ainda possam estar em tamanhos grandes.
Assim, transforma-se o corpo em cinzas, em uma consistência adequada para ser guardado na urna funerária.
O cliente tem a opção de escolher a urna e outros objetos para compor o memorial, como uma urna com porta-retrato, para colocar uma foto que desperte uma lembrança alegre, estatuetas e placas memoriais.
Como o processo de cremação ajuda a lidar com o luto?
Quando nos vemos diante de um companheiro falecido o pensamento imediato não é: “qual a boa prática ambiental para o funeral?” Primeiro, somos tomados pela angústia, pela falta, pelo sentimento de impotência por não poder reverter a morte.
E só depois vem a ansiedade por não saber exatamente o que fazer com o corpo, acabamos sempre optando pelo caminho mais fácil e rápido.
No entanto, se nos voltarmos para a importância das cerimônias para lidar com o luto, não fica difícil perceber que o corpo do animal doméstico precisa do trato adequado, como o de qualquer ser humano.
O culto aos animais existe em diversas culturas. Cada sociedade apresenta uma visão diferente acerca dos animais sagrados.
A taxidermia, por exemplo, é uma prática milenar que visa o respeito para com os bichinhos e tem lá seu significado específico quanto ao culto à morte no Egito Antigo.
Muito dessa crença perdeu-se ao longo do tempo e não alcançou a sociedade industrial, que acaba por se apropriar dessas tradições, ressignificando-as, levando a taxidermia para o campo da ciência, podendo auxiliar nos estudos de anatomia e na classificação das espécies em exibições de museus.
Histórico de cremação de animais
Religiosidades à parte, parece mesmo que nosso sentimento de superioridade faz com que rituais de passagem que envolvam vidas não-humanas não sejam uma preocupação.
Apesar deste ainda ser um pensamento recorrente, a sociedade ocidental também desenvolveu seus ritos para lidar com a morte dos animais.
Um dos mais antigos cemitérios desse tipo data de 1899 e está localizado em Paris.
O que começou como uma medida sanitária, para evitar o descarte de animais mortos em canais ou em locais que corressem o risco de contaminação de lençóis freáticos, a prática passou a ser considerada como uma postura em respeito à vida e à memória.
No Brasil, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) incluiu nos seus serviços do Hospital Veterinário o Cemitério Cadelinha Sasha.
É o único cemitério público brasileiro voltado para esse tipo de serviço e tem como foco expandir a prática do cuidado correto com os pets falecidos, inaugurando formalmente a pauta: “não enterre seu animal de estimação no fundo do quintal!”
A UFPI, então, faz-se referência sobre o assunto na América Latina e divulga informações valiosas sobre o assunto em seu site.
Diante disso tudo, pense bem: se vidas importam, independentemente da religião que se segue; se os maus-tratos aos animais já é algo condenável; por que, então, a morte não mereceria igual respeito?
Onde a cremação pode ser feita?
Esse serviço muitas vezes está vinculado a clínicas veterinárias. No Brasil, essa é a maneira mais comum de se informar sobre o procedimento.
Alguns cemitérios de animais também estão equipados com crematórios e são considerados os mais indicados, como o crematório da UFPI, sobre o qual já comentamos.
Mais adiante neste artigo, discutiremos sobre a regulamentação e os benefícios da cremação de animais no Brasil.
Mas, antes de escolher onde realizar a cremação, podemos nos fazer a seguinte pergunta:
O que nos diz a legislação?
De fato, a regulação no Brasil sobre isso é escassa. Não há uma lei federal sobre o assunto e a legislação trata mais especificamente sobre falecimento de animais de laboratório.
Por exemplo, a Lei nº 15.413, 2014, do Estado de São Paulo, dispõe sobre as condições do “tratamento térmico por cremação de animais mortos provenientes de estabelecimentos de ensino e pesquisa”.
Mesmo que não haja nada a respeito da cremação de animais domésticos, essa regulação é um bom indicativo de como manipular as centenas de animais que morrem todos os dias respeitando critérios básicos da saúde pública.
Também já há leis específicas nos Estados e Municípios que desencorajam a prática comum do enterro – que podemos chamar de – informal.
Além disso, o artigo 54 da Lei Ambiental pode ser interpretado como uma regulação e punição para o ato do enterro irregular de animais, quando este é visto como uma ação que pode incorrer em poluição ambiental.
Esse tema tem se alargado, porque muitas funerárias que lidam com pets, na realidade, não realizam os enterros de maneira correta.
Muitos ambientalistas chamam a atenção para isso: não basta colocar o animal em um cemitério, é necessário saber se o procedimento é feito de maneira a não surtir efeitos negativos no meio-ambiente.
Afinal, precisamos mesmo ter medo de uma multa para tomar uma decisão sobre o assunto?
A resposta é: NÃO! Em uma sociedade em que as pessoas se autointitulam mães e pais de pets e tratam seus bichinhos como verdadeiros membros da família, basta o sentimento de igualdade para escolher pela cremação.
Como funciona a cremação?
É importante ressaltar que o assunto é CREMAÇÃO, o que é muito diferente de incineração.
Quando se escolhe essa opção evitamos os desgastes com isolamento adequado do corpo, necessário no enterro, e com os impactos da poluição do ar, que é uma das consequências negativas da incineração.
Uma cerimônia de cremação deve seguir todas as exigências: inibir a transmissão de doenças que o animal pudesse ter, sem riscos de exposição e contaminação do solo ou do ar.
Esse serviço já é amplamente difundido. Ainda que no Brasil não seja uma prática comum, esse cuidado necessário é uma discussão ativa em nível mundial, de maneira que a ACEMBRA (Associação dos Cemitérios e Crematórios do Brasil) é uma das precursoras das técnicas em cremação de animais em nosso país.
Há cemitérios municipais, como o de Campo Grande-MS, que já incluíram a prática em seu sistema, como nos informa a Câmara Municipal.
Mas há também cemitérios exclusivos para animais e crematórios de pets que realizam o serviço por todo o Brasil.
Qual o valor da cremação?
A faixa de preço da cremação de animais está entre R$700,00 e R$4.000,00, dependendo do pacote de serviço escolhido, em que o contratante pode optar por uma cremação individual ou coletiva.
Pode parecer um valor um tanto alto, mas há de se considerar que:
1. é uma taxa única, ou seja, não tem serviço de manutenção posterior, como acontece quando se opta pelo enterro;
2. nesse caso, o valor gasto é menos importante que a necessidade de finalizar, dignamente, o ciclo de vida do animal;
3. quando é feita a escolha de cuidar de um animal é necessário ter em vista que estamos lidando com um ser vivo e isso significa que haverá custos não apenas durante a vida do pet.
Realizar a cerimônia e a condolência de maneira adequada é a melhor solução para superar a perda, para lidar com a morte e, acima de tudo, responsabilizar-se corretamente pelo ocorrido.
Mais que respeitar os bons tratos aos animais vivos, é necessário também respeitar sua morte.
Informe-se sobre as possibilidades de cremação de animais em sua cidade. ONGs, zoonoses, cemitérios de animais, prefeituras são alguns dos órgãos que possuem as ferramentas adequadas para auxiliar nesse momento.